sábado, 25 de janeiro de 2014

CRÍTICA DE ARTE REALIZADA PELO DR. PÉRICLES PRADE. ESCRITOR, POETA, ADVOGADO E JURISTA.

O ESTADO - Florianópolis, 17 e 18 de setembro de 1994

Norma Perez Bonilla é uma artista uruguaia que vive em Florianópolis, há 14 anos (atualmente mais de 30 anos na ilha), encantada pela envolvente magia da ilha, desenvolvendo nobre atividade no campo da cerâmica, especializando-se em murais de variados tamanhos, além de, com irregular frequência, pintar (acrílico) obras onde ressaltam as cores quentes na linha do figurativismo e abstracionística-cubista e de expressão eidética - mas atrelada, sempre, às raízes profundas formadoras da identidade latino-americana.
Conquanto seja impulsionada pelas reminiscências primitivas, operando a argila, matéria predominante, como se o fizesse in illo tempore, a partir do conhecimento de técnicas pré colombianas (o uso sistemático do engobe bem o revela), resguarda sua individualidade, com liberdade plena, inserindo-se, todavia, no conceito da cerâmica artística atual, sem inibição de qualquer ordem, sabendo que deve projetar-se na direção dos valores de nossa época para manter a eficácia e a vigência de seus signos, instaurados no complexo universal das artes.
Signos que plasmados pela sintaxe (articulação) e pela semântica (significados) integrantes da linguagem plástica da cerâmica, cria-os a artista afeiçoada a ideação original motivadora - onde a forma, na mente, antecede a temática como concepção - planejando e elaborando, com fervor consciente, reflexivo e racional, mas não tanto, um cosmos construtivista de rara comunicação artística.
O construtivismo, privilegiando a divisão do espaço e caracterizado pelas imagens obviamente construtivas, ou seja, as que obedecem, segundo o ensinamento de Jorge Fernandez Chiti, à vontade de construção, armada por uma intenção de organização e planificação das formas, de acordo com um desenho pré-fixado, em Norma Bonilla é de cunho figurativo conotativo, às vezes estilizado, às vezes com evocações abstratas e oníricas, ligado quase sempre à tipologia da montagem de módulos orgânicos nos quais, instala-se o movimento precursor da empatia cromática.
É o cromatismo rítmico, harmonioso e singular de imagens construtivas, tanto o aplicado quanto o natural, o dado que mais se destaca nessa primorosa ceramista. Por certo em razão do excepcional manejo da cor cambiante e recriada, com a prevalência das tonalidades dos verde, vermelho, marrom, amarelo e azul, cujo domínio, sem dúvida inato, intuitivo, é contemporaneamente fruto de uma cultura rica em experiências estéticas.
Trata-se, enfim, de uma ceramista construtivista que, sem favor algum, encontra-se entre os representantes mundiais mais significativos dessa vertente, tais como os italianos Enrico Stropparo, Giovani Cimatti, Nedda Guidi, o argentino Carlos Carlé e a búlgara Rositza Trendafilova. O círculo fechado dos melhores do gênero.
                                                                                                     Péricles Prade
Pertence a coleção particular do Dr. Péricles Prade


Pertence a ABC (Associação Brasileira de Cerâmica)