sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

                                                         Meu aprendizado.

Nos tempos da Faculdade de Belas Artes, durante os períodos de aula em Montevidéu eu passava 5 dias por semana no Cerro, onde era o atelier de Gurbich, aluno de Joaquim Torres Garcia, criador do "Universalismo Construtivo". Esse atelier foi comprado por um seguidor deste movimento. Ernesto Drangosh e sua esposa Carmem Kussina, professora de Ballet.
Passei os melhores anos de minha vida nesse grupo (ainda morando em Punta del Este). Naquele tempo todos me conheciam pelo nome de casada, Norma de Volppe. Já divorciada, quando vim para o Brasil passei a ser conhecida como Norma Bonilla..
Nesse atelier, que era muito cosmopolita, aprendi a amar o Construtivismo de Torres Garcia. Muitos artista dessa vertente se reuniam lá e eu aprendi muito com eles e com Manolo Lima, aluno de Torres que também dava aula por lá. Por eles conheci muitas coisas desse ser que saia do Uruguai para a Catalunha (Espanha), com 17 anos, estudando e mais tarde cursando escolas superiores em Barcelona.
Teve o privilegio de frequentar Antoni Gaudi e trabalhar fazendo os vitrais de duas catedrais, de Palmas de Mallorca e a Catedral da Sagrada Familia em Barcelona.
Morou um tempo em New York, trabalhando com brinquedos e sua forma e cor. Já havia constituído uma família.
Voltou para Europa e conviveu com Theo Doesburg e Piet Mondrian pais do Neo Plasticismo. Também dirigiu uma revista e começou a ter o seu estilo.
Joaquim Torres Garcia foi o artista sul-americano com mais contatos com europeus de vanguarda no século xx.
Viveu e frequentou personalidades como Wassily Kandinsky, Fernando Leger, Piet Mondrian, , Josep Stella, Le Coubusier, entre outros.
Escreveu e publicou livros que me sensibilizaram muito,como: "Descubrimiento del ser" e "Universalismo Construtivo".
Logo após o falecimento de Joaquín Torres García en 1949, seus familiares e amigos, liderados por Manolita Piña, sua viúva, tomaram a determinação de criar um museu que contivesse o legado do mestre, tanto de obras de arte como documental.
Sua esposa cumpriu seu objetivo, quando aos 106 anos de idade, inaugurou o Museu Torres Garcia.
Abaixo vemos as 3 fases que passou até chegar ao "Universalismo Construtivo".



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014





Mural feito com pasta de argila e cimento "autofraguante" (espanhol). Construido no muro de pedra em um sítio em Ratones - Florianópolis.
Técnica de Engobe -

 Foi no Museu de Antropologia da UFSC que vim a saber com exatidão sobre as artes dos índios Guaranis, de uns 500 anos atrás. 
Graças a antropóloga Teresa Fossari, diretora do museu, que me presenteou com um livro que fiquei sabendo, que os europeus, ao passarem por Venezuela (Vera Cruz), avistaram uns índios Guaranis, que vinham do Caribe para a Amazônia, com uma cerâmica tão brilhante que parecia ser cerâmica esmaltada (Engobe).
Mais tarde os Guaranis foram baixando a qualidade da sua arte, provavelmente por não encontrarem uma argila adequada por onde passavam. Porém, há motivos consistentes que comprovam o florescimento do Engobe com as culturas andinas INCA, NASCA, VICA, etc. Assim como a Marajoara no Brasil, Diaguitas na Argentina e tantas outras culturas na América Central e do Norte.
- Quando ensino a "engobar", estou ensinando todo o processo, desde a preparação da peça em dureza de couro até o grunido. Todo esse processo me foi ensinado pelos velhos coyas, índios amigos da minha tia Pola Bonilla (reconhecida no Uruguai por sua técnica de Engobe), que também foi minha professora junto com Alvar Colombo do Atelier Municipal de Paisandu.
Hoje, quando vejo as fórmulas de engobes parecendo receitas de fórmulas secretas, materiais que os índios não usavam, meu primeiro pensamento é desmistificar tudo isso.
O Engobe, própria mente dito, só é argila natural ou colorida com pigmentos e água.
Quando os índios se encontravam em lugares que a argila era pouco plástica, usavam graxa de pelha ou de peito de aves para sua aplicação.
O segredo é o tempo certo de aplicação sobre a argila e um bom polimento.
Atualmente, quando queremos queimar a peça de argila a uma temperatura muito alta (por que esta o requer) colocamos transparente alcalino na fórmula, para uma melhor fundição, ou para não necessitarmos brunir-la.
Quero esclarecer que não sou contra as receitas desde que não sejam apresentadas como Engobe original dos povos indígenas.



 Cerâmicas Nasca - Marajoara - Tapajônica.
"Aquarela". Fiz essa obra pensando nas crianças em uma expressão do movimento na pintura com aquarela. Inclusive tentei não dar muito volume, para lograr o objetivo.
Este mural mede 1.80 x 80 com. Está feito com a técnica de Engobe e texturas de Engobe lavado.
Como queria provocar um contraste entre brilhos e texturas foi queimado só a 900º graus. 
Por que? Porque a mais de 900º o contraste se perderia e o brilho não apareceria assim. Por outro lado ele deve ser para partes internas de um edifício, porque não é Gres nem é esmaltado que protege da intempérie.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Esta escultura de pé não tem nada de Engobes, pois ela é um composto de diferentes argilas sobre uma base de uma argila mais rústica. Foi realizada com muito cuidado na união dos
volumes de argilas diferentes para que não se desprendam na hora de queimá-las.
A base é feita de metal trabalhado e dourado.




Estas duas são esculturas gêmeas, que foram feitas com o propósito de demonstrar que podemos usar diferentes argilas e diferenças nas contrações delas, dentro de uma mesma
 peça. Só necessitamos acompanhar a secagem.



















Como sou uma "Construtivista", quis fazer desta obra uma demonstração, na qual, não uso tintas, mas sim as diferentes tonalidades que uma argila natural contém.
Construí com argila branca, creme, terracota e faiança de Pascoal. Dei um toque na obra com madeira e metal.
Demonstrando que não necessitamos de muito material para fazer uma boa obra, mas sim de técnica e bom gosto.




"Um artista e sua obra" -

 Mural feito com placas e volumes ocados. Técnica cerâmica 

 de "Engobe".



sábado, 25 de janeiro de 2014

CRÍTICA DE ARTE REALIZADA PELO DR. PÉRICLES PRADE. ESCRITOR, POETA, ADVOGADO E JURISTA.

O ESTADO - Florianópolis, 17 e 18 de setembro de 1994

Norma Perez Bonilla é uma artista uruguaia que vive em Florianópolis, há 14 anos (atualmente mais de 30 anos na ilha), encantada pela envolvente magia da ilha, desenvolvendo nobre atividade no campo da cerâmica, especializando-se em murais de variados tamanhos, além de, com irregular frequência, pintar (acrílico) obras onde ressaltam as cores quentes na linha do figurativismo e abstracionística-cubista e de expressão eidética - mas atrelada, sempre, às raízes profundas formadoras da identidade latino-americana.
Conquanto seja impulsionada pelas reminiscências primitivas, operando a argila, matéria predominante, como se o fizesse in illo tempore, a partir do conhecimento de técnicas pré colombianas (o uso sistemático do engobe bem o revela), resguarda sua individualidade, com liberdade plena, inserindo-se, todavia, no conceito da cerâmica artística atual, sem inibição de qualquer ordem, sabendo que deve projetar-se na direção dos valores de nossa época para manter a eficácia e a vigência de seus signos, instaurados no complexo universal das artes.
Signos que plasmados pela sintaxe (articulação) e pela semântica (significados) integrantes da linguagem plástica da cerâmica, cria-os a artista afeiçoada a ideação original motivadora - onde a forma, na mente, antecede a temática como concepção - planejando e elaborando, com fervor consciente, reflexivo e racional, mas não tanto, um cosmos construtivista de rara comunicação artística.
O construtivismo, privilegiando a divisão do espaço e caracterizado pelas imagens obviamente construtivas, ou seja, as que obedecem, segundo o ensinamento de Jorge Fernandez Chiti, à vontade de construção, armada por uma intenção de organização e planificação das formas, de acordo com um desenho pré-fixado, em Norma Bonilla é de cunho figurativo conotativo, às vezes estilizado, às vezes com evocações abstratas e oníricas, ligado quase sempre à tipologia da montagem de módulos orgânicos nos quais, instala-se o movimento precursor da empatia cromática.
É o cromatismo rítmico, harmonioso e singular de imagens construtivas, tanto o aplicado quanto o natural, o dado que mais se destaca nessa primorosa ceramista. Por certo em razão do excepcional manejo da cor cambiante e recriada, com a prevalência das tonalidades dos verde, vermelho, marrom, amarelo e azul, cujo domínio, sem dúvida inato, intuitivo, é contemporaneamente fruto de uma cultura rica em experiências estéticas.
Trata-se, enfim, de uma ceramista construtivista que, sem favor algum, encontra-se entre os representantes mundiais mais significativos dessa vertente, tais como os italianos Enrico Stropparo, Giovani Cimatti, Nedda Guidi, o argentino Carlos Carlé e a búlgara Rositza Trendafilova. O círculo fechado dos melhores do gênero.
                                                                                                     Péricles Prade
Pertence a coleção particular do Dr. Péricles Prade


Pertence a ABC (Associação Brasileira de Cerâmica)